Certa vez, mexi em alguma configuração do meu Mac — distraída, talvez tentando deixar a tela mais limpa — e, sem querer, tirei a barra superior do navegador. Aquela faixa sutil e poderosa que, com sua presença silenciosa, me dava acesso a tudo: minimizar, fechar, abrir outra aba, mudar de página, respirar.
Só que agora… ela sumia.
Toda vez que eu movia o cursor, bastava um pequeno movimento para cima, e — puff — a barra desaparecia. Era como se o controle da navegação evaporasse. Sentia uma agonia tão incômoda, quase física, como se algo essencial tivesse sido arrancado. Um aperto no peito, um vazio súbito.
Instintivamente, eu levava o cursor de volta ao topo da tela. E lá estava ela: a barra superior ressurgindo como uma velha amiga voltando de repente. Um alívio sutil percorria meu corpo. Como uma criança que perde a mãe por alguns segundos no mercado, e depois a encontra — está ali, não te deixou.
Era só uma barra. Mas para mim, naquele momento, era o eixo do meu microcosmo.
Por mais incômodo que fosse, por dias eu simplesmente aceitei. Não movia um palito sequer para corrigir a configuração e deixá-la fixa. Algo em mim parecia se acostumar com essa ausência intermitente — quase como se precisasse dela para aprender algo.
Foi então que me veio uma epifania.
Naquele espaço silencioso entre o incômodo e a repetição, percebi que aquela barra era o reflexo exato do meu estado emocional. Eu estava vivendo um tempo de desespero sutil, mas constante. Medo de não dar certo. Medo de não ser ouvida. Medo de falhar. Era como se minha própria confiança sumisse do nada e eu precisasse ir buscá-la o tempo todo — lá no alto, no limite do visível.
Até que, num desses momentos em que a barra sumiu, eu me peguei olhando para a tela e pensei:
“É assim no mundo espiritual. Você não vê Deus… mas Ele está sempre ali.”
Assim como a barra, Ele se revela quando você se movimenta com intenção. Ele reaparece quando você se lembra.
Essa experiência simples, cotidiana, tecnológica até, me ensinou que a espiritualidade não é sobre visões grandiosas, mas sobre a fé nas coisas sutis que nos sustentam. Aquelas que, mesmo quando somem do campo da visão, continuam ancorando nosso caminho.